A escrita começa onde a psicanálise termina - Serge André

14/03/2025

Há um texto que me acompanha em minha formação há vários anos, desde 2017, para ser mais preciso. Trata-se de "A escrita começa onde a psicanálise termina", posfácio a um romance escrito por Serge André.

Em 1992, André havia sido diagnosticado com um câncer em estágio terminal: três, no máximo seis meses de vida, disse-lhe o médico que o acompanhava. Diante da finitude escancarada à porta, o autor embarca em uma jornada pela escrita, que resultou na sua obra FLAC, um empreendimento literário que dá lugar a uma experiência singular (chamou o livro menos de uma história que de uma música) e onde, nas palavras do autor, foi preciso "forjar a própria língua". Aliás, frisemos que uma análise necessariamente nos exige esse mesmo esforço. Ao término de sua incursão pelo texto, ao retornar aos exames médicos, André se encontra com o enigma: o câncer havia desaparecido.

Algum tempo depois, a pedido de Nestor Braumstein, seu editor para a América Latina, André escreveu um posfácio para acompanhar a tradução de sua obra para a língua espanhola. O texto aqui presente é a tradução dessa parte, escrita em 1999 e destacada da obra FLAC, que busca refletir sobre os poderes da linguagem, examina as contribuições de Freud e Lacan para pensar a criação e propõe algumas convergências e divergências entre a psicanálise e a literatura.

Ano passado prometi diante de alguns amigos que traduziria essa obra (fazer do outro testemunha me estimulou a concluir a empreitada). Tentei cuidar para que ele pudesse ser contemplado como um livro impresso, mas nem sempre é prática a via para uma publicação. No momento atual, tenho menos disponibilidade para suportar essa burocracia penosa e mais vontade de apostar na espontaneidade e na contingência que acompanha um gesto.

Assim, por livre iniciativa – e como singela homenagem a Serge André – optei por traduzir e disponibilizar este texto no formato .pdf para quem dele quiser se servir. Há passagens desse posfácio que talvez soem anacrônicas aos leitores dos tempos atuais. Outras, parecem ter sido profetizadas com rara sensibilidade. Deixemos a cada leitor o exercício de navegação por essa multiplicidade de leituras. Recomendo a todo aquele que se interessa pela interlocução entre psicanálise e arte, entre análise, criação e literatura. Oxalá ele faça as vezes de novas causas.

Março de 2025

Laerte de Paula