Conversa Espaço Catarse
Que Freud tenha retificado sua teoria da sedução na aurora do século passado, ou que Ferenczi tenha dado destaque para algumas consequências nefastas da confusão de línguas, é o lugar de dizer que entre os primórdios da psicanálise e as produções atuais, faz-se uma abordagem superficial da ideia de sedução e mesmo de sua incidência na clínica. Para além do recorte sempre pueril das revistas e manuais de comportamento, o tema merece um acolhimento que restitua sua dignidade, sua polissemia e seus distintos efeitos sobre os personagens desta cena: sideração, vertigem, amor, ódio e, como efeito central, a abertura hemorrágica da língua, onde criação e desamparo jorram desde a mesma fonte.
Afinal, que efeito é este, uma sedução? Descobrir-se seduzido, descobrir-se seduzindo. A sedução despoja e poderia ser potente saber fazer algo com isso. Febre, palpitação e horror, da sedução somos todos objetos [ou fugitivos]. Não à toa convém nos defendermos dela. O erótico mobilizado na sedução é sempre da ordem do excessivo. Entre os avanços e recuos desta experiência, um esforço por ler o que se passa nessa fulgurante fissura. Esta apresentação, fruto de uma pesquisa em andamento, propõe uma contextualização do tratamento dado a este termo, construindo um caminho de referências e questões que contornem este território cheio de ambiguidades.
Proponho trabalhar com tempos distintos para se pensar a sedução: a presença familiar, a vacilação, a promessa, a decepção. Toda sedução produz um efeito residual que pode ser lido tanto em chave amorosa como em chave ressentida, dependendo de como o sujeito se apropria deste engano. Na chave neurótica, duas leituras adquirem centralidade: ou um ressentimento que culpabiliza o outro e suas más intenções, ou a culpa, a vergonha e o senso de humilhação por ter sido enganado ou haver fracassado na busca de uma experiência verdadeira (isto é, que não trouxesse a decepção). É certo que cada época histórica também condiciona em alguma medida as possibilidades de ler e responder a este tipo de acontecimento. Embora nossos tempos não favoreçam ao acolhimento desse tipo de experiência, é este sempre o trabalho mais central de uma análise.
Data: 12/12/2020 (sábado)
Das 15h às 17h
Inscrição e pagamento: https://forms.gle/WsWtvshLLWtG813N7
Plataforma Zoom Meeting