V Reunião Aberta - Haeresis Associação de Psicanálise
V Reunião Aberta Hæresis
Estamos em Uberlândia, Minas Gerais e, apesar de Sertão, não é bem o Sertão de Guimarães Rosa. Mas, como todo Sertão, está em nós. Faz nós, enlaça, desenlaça, amarra, solta, amordaça, liberta, afeta pessoas, embaraça. E é nesta terra, cada vez mais árida, que escutamos, como analistas, sujeitos que se propõem a falar de si, a dizer de si. Sendo cada sessão de análise uma poética e cada pessoa uma poesia, partimos disto: uma análise é uma reinvenção das línguas, de uma mesma língua enxertada de novas palavras, da língua do Outro que me causa, que herdo, traduzo, transformo e com a qual atravesso os tempos. Numa análise, torno essa forma mais humana que existe um discurso, me localizo, localizo os outros. Conduzo, como todo falante, a civilização. Quando uma criança fala, seja como for, num gesto, num grito, num silêncio, num barulhinho de voz qualquer, nas palavrinhas tortuosas e inventivas, essa civilização caminha, avança Sertão adentro. Se Guimarães nos faz (a)travessar o Sertão toda vez que se lê a instância da letra com a qual nos contou ao mundo, convidamos aos interessados na psicanálise à escuta do que temos a dizer sobre as palavras ditas e sobre os ditos por traz delas, como praticantes do inconsciente. Escutar a nós e aqueles que invocamos a contar que línguas falam e como escutam as línguas dos Outros, línguas impregnadas de ecos, memórias e associações, pois uma palavra, afinal de contas, não é apenas uma palavra, carrega sempre um segredo: carrega nosso desejo.
Data: 01/12/2023 e 02/12/2023
Evento Presencial e Gratuito em Uberlândia, MG
Local: Anfiteatro 5OA – Campus Santa Mônica/Universidade Federal de Uberlândia
Necessário inscrição prévia. LINK
PROGRAMAÇÃO
Sexta-feira 01/12/23
13h-14h30
Lançamento do livro "O autista como estrutura subjetiva. Estudo sobre a experiência do autista na linguagem e com a palavra" (Cirlana Rodrigues de Souza/Editora Blucher)
14h30 – 16h
Lançamento do livro "Psicopatologia Lacaniana: a partir de quando se está louco?" Aline Accioly, Eliene Boaventura, Angela Vorcaro. Org. Marcia Rosa. Editora Scriptum, 2023.
16h – Credenciamento
16h30-18h30
Pré-evento – Das consequências de deixar aparecer as fissuras em uma reunião de psicanalistas
Participantes da mesa: Aline Accioly, Cirlana Rodrigues de Souza e Germano Almeida Faria Fortunato Pereira
Mediador: Estanislau Alves Silva Filho
19h-21h30
Mesa 1 : Leituras do falasser à lalíngua lacaniana
Participantes da Mesa: Aline Accioly, Kaio Fidelis e José Lucas Nunes
Mediador: Germano Almeida Faria Fortunato Pereira
Sábado 02/12/23
9h-12h
Mesa 2 – Autoriza-se a brincar com a criança em seu ciframento
Participantes: Carolina Antônia Goulart de Paula, Cirlana Rodrigues de Souza, Germano Almeida Faria Fortunato Pereira
Mediador: Thiago Silva Damasceno
14h30-17h30
Mesa 3 – Nesse inconsciente, aquele que fala é um sujeito dentro do sujeito, transcendendo o sujeito
Participantes: Estanislau Alves Silva Filho, Laerte de Paula e Cirlana Rodrigues de Souza
Mediador: Diogo Novaes
17h30-19h
Em que língua se experimenta a satisfação de uma análise? – Laerte de Paula (mesa 03)
O trabalho propõe articular uma série de achados que joguem luz sobre as possibilidades de transmissão dos efeitos de uma análise, indicando alguns de seus acontecimentos primeiros – chamemos de abertura, ou de entrada em análise –, passando por aqueles que poderíamos chamar de travessia das repetições e insistências, até chegar a algumas coordenadas para se pensar os parâmetros que permitiriam interrogar em que medida uma análise pode ou não tornar legível uma conclusão. Retomando a pergunta freudiana: o que seria legítimo esperar daquele que atravessou uma análise? Em Análise Terminável e Interminável, Freud responde que o Eu daquele que passou por uma análise seria um Eu transformado. Ainda que sua leitura dos limites de uma análise tenha sido criticada e mesmo ultrapassada por Lacan, sua proposição pode ser defendida, desde que tentemos indicar de que transformações se trataria. Em Nota Italiana, Lacan indica que sem entusiasmo, não seria possível atestar que uma análise levou a termo a produção de um analista. Libertação, destituição, de que truque se trataria para que o entusiasmo possa comparecer e, minimamente, justificar algum tipo de satisfação digna de tamanho empreendimento? Assim, falar de efeitos e fins e, ao mesmo tempo, meditar sobre a própria linguagem são tarefas indissociáveis. O que um analisante que perfez uma trajetória de análise teria a indicar sobre sua relação com a língua? Para recuperarmos a pergunta que convida a este evento, acrescentaríamos: o que determina uma língua? Profusão de línguas com as quais se pode brincar, já que, disse Lacan, só se diz de uma língua em outra língua. Um analisante, tocado pelo tipo de análise que me interessa debater, precisaria favorecer para seu desejo (isto é, seu buraco, sua divisão) o efeito de contágio. Precisa? Haveria alguma possibilidade de fazer desse procedimento um ato antecipável ou mesmo formalizável? Não se trataria tanto de saber em que língua fala, mas em como fala aquele que foi marcado pelos efeitos de uma travessia analítica. Alguns lacanianos chamariam tal acontecimento de passe, ferramenta degradada que parece servir mais à neutralização do espanto que de exibir alguma descoberta. Assim, como formalizar algo que só pode se produzir como acidente, como contingência, como ato não decidido pela vontade, escandaloso, a cada vez, um a um? A única tese a se sustentar é a seguinte: não se trata tanto de contar o que se passou, mas de fazer algo acontecer no próprio ato em que se conta. Vejamos se este trabalho poderia aclarar tais provocações.